Eu vivo, não sinto. Uns dizem amar até morrer, outros buscam a alegria ou habituam-se a infernizar outros. Outros choram lágrimas de alegria e tristeza, porque sentem. Não sentem nada, sentem tudo. Ainda restam aqueles que partilham as suas vidas com pessoas com quem deveras amam. Eu não fico felizes por eles, porque não sinto, apenas vivo.
Olho, escuto, falo quando necessário, brinco para enganar o tempo, rio para iludir o coração, aquele "comboio de corda". E por vezes cheiro flores de jasmim e alfazema que cobrem o jardim e continuo a fingir que nada sinto.
Dou um passo em frente a seguir de outro, passo por entre toda aquela multidão sem se aperceberem e choro, rio, falo. Mas ninguém me escuta, recusam-no.
Pois dizem que apenas vejo maldade. Eu apenas vejo o que os meus olhos me mostram, digo.
Eu não sinto, não escuto, não falo por vezes com medo de magoar alguém, de errar e de não conseguir sobreviver outra vez.
Por isso falo, escuto e olho tudo o que me abraça.